06/11/2016

Uma visita a um dos Sítios mais especiais onde já estive

Fui visitar a Casa Ronald McDonald (CRM) À porta encontrei sorrisos! E a energia de pessoas que vivem o que fazem. Se todos falássemos do nosso trabalho com o mesmo orgulho e carinho com que a Ana e a Sandra falam, todos tínhamos o melhor emprego do Mundo.


É um sítio muito especial que acolhe as famílias de crianças hospitalizadas que moram longe e não têm onde dormir enquanto acompanham os filhos em internamentos prolongados. É uma casa longe de casa.

Parámos à entrada da CRM para me explicarem a Árvore. Na árvore podemos ver todas as empresas que ajudam a Fundação Ronald McDonald a sustentar a casa (há uma em Lisboa e outra no Porto) e a dar apoio a estas famílias.

Cada um destes corações representa as empresas queridas
 que fazem que com que tudo isto seja possível.


O Rodrigo chega acompanhado pelo pai, Elídio. Tem 18 anos. (Disse-me ele orgulhoso!) a mãe, Júlia, está na cozinha a preparar alguma coisa para comerem porque vão hoje dormir a casa em Vila Nova de Milfontes. O Rodrigo tem sorte porque já só vem à CRM uma vez por mês para fazer tratamentos no Hospital. 

A porta da rua abre-se novamente. Entra uma família inteira! O Mário está de máscara. Tem de proteger-se de infecções. O pai Francisco e a mãe Lúcia têm um olhar simpático e acolhedor. A Luzinha é a mana pequenina! Tímida e traquina. Tanto nos seduz com um olhar irresistível como foge para trás das pernas da mãe para se esconder quando nos metemos com ela. 

Sento-me numa sala confortável. Enorme! Há sofás para toda a gente! Uma luz agradável. A televisão está desligada e a conversa começa a fluir.



Pergunto ao Rodrigo se posso tratá-lo por tu. 

- Sim! Claro que sim! 

Miúdo giro! Loiro e de sorriso fácil. 

- Que idade tens Rodrigo? 
- Já tenho 18 anos! 
- Como vieste aqui parar? 
- Tive um linfoma. 

É com esta naturalidade que ele fala. Teve um linfoma! Enquanto eu engulo em seco, não lhe vi um único trejeito de auto-comiseração! Em vez disso mostrou-me os dentes num sorriso tímido mas rasgado! Como é possível?

- E a casa? 
- Já só cá venho uma vez por mês. Os meus pais é que passaram cá mais tempo enquanto eu estive no hospital. 

Elídio olha para o filho. Vê-se o orgulho que transporta no olhar! Não imagino o alívio que também deve sentir! Diz que foram tempos muito difíceis e que ajudou bastante ter este apoio. Poder partilhar vivências com outros pais na mesma situação. Ter um sítio que não é a casa deles mas que é casa! Um canto para terem as suas coisas, saberem que ao fim do dia têm um sítio confortável e acolhedor para onde podem voltar depois das lutas imensas no Hospital. 

A família do Mário está toda junta! O Mário está sentado ao meu lado e a pequena Luz vai saltitando de colo em colo. 
- E tu Mário? O que tiveste? 
- Estou a recuperar. Estive um mês internado. 
- Então? Foi complicado? 
- Não! Fiz um transplante pulmonar. Já estou quase bom! 

Riu-se em tom de ironia! Acaba por desabafar que a vida dele não foi fácil principalmente no último ano. Cheio de saudades dos amigos, da namorada e de fazer BTT! Vai ao telemóvel buscar uma fotografia de uma bicicleta laranja linda para me mostrar! Acaba também por revelar que é artista e mostra-me fotografias de quadros pintados por ele. Fico atónita com o seu talento!!! O pai Francisco conta cheio de orgulho que ele até já fez uma exposição no Centro de Saúde de Vila Verde. 

Fibrose Quística! Foi este o nome que atiraram para cima desta família quando o Mário tinha apenas 3 dias de vida. Já se passaram 17 anos entretanto. Lúcia e Francisco estavam prontos para sair do hospital com o seu bebé tão desejado. Prontos para uma nova aventura. Mal sabiam do tamanho da aventura que os esperava. O bebé recém-nascido teve uma infecção pulmonar. Acabaram por descobrir a doença e serem preparados pelo médico (que já está reformado mas continua a ligar para saber do Mário) para a dura realidade que aí vinha. 

Esta família veio de Braga! Pergunto quais são as profissões deles. Francisco trabalha nas obras e Lúcia é costureira. Teve de ser! Tinha de cuidar do filho e só podia trabalhar a partir de casa. 
Lúcia tem de ir para a cozinha fazer o jantar da família. O Mário só pode comer comida confeccionada pela mãe em casa. A pequena Luz corre atrás da mãe e eu continuo a beber a energia fantástica deste pai e deste filho.




- Que bom poderem estar aqui os quatro! Juntos!!! - digo eu. 
- Sabe, nós somos uma família! Se é para sofrer, sofremos juntos! Quando é para festejar também festejamos juntos! Não podemos estar uns sem os outros. 

Engulo em seco! Em poucas frases Francisco disse TUDO... 

Entretanto chega Sandra a casa. A Sandra foi mãe pela segunda vez em Dezembro. O pequeno Francisco nasceu com uma fenda na traqueia. Uma malformação muito rara. Está internado desde então. Já fez duas cirurgias. A primeira não correu bem... Sandra é a mãe mais antiga da casa, já lá está há quase um ano. A família vive em Tomar e Sandra costuma ir e vir de comboio.

- É rápido! Uma hora e pouco estou lá. 

A Joaninha de 3 anos costuma vir nas férias ter com a mãe à casa, às vezes até vem passar o fim-de-semana. A mãe vai-se revezando com o pai Marco para poder estar também com a filha. Sandra está a fazer sopa para o seu jantar e cheira a comida caseira na cozinha. Apetece sentar com eles a jantar.  

É impressionante a organização da cozinha. Cada família tem um símbolo. O símbolo está à porta do quarto, nos armários da despensa, nos frigoríficos, no exaustor. Cada frigorífico serve duas famílias. 



O Mário tem de tirar a máscara para comer por isso vai jantar para uma sala isolada. 

- Tu tens de dormir com máscara? Isso deve fazer calor... 
- Já estou habituado. Não me custa. Mas tiro para dormir. À noite dormem os meus pais com máscara para eu poder descansar disto! 

Olho deslumbrada para estas famílias! Cada uma com a sua história! A energia que se sente naquela casa não é explicável. 

Vi cansaço. Mas não vi desespero. (Possivelmente esse, já ficou para trás) Vi energias positivas. Vi optimismo. Vi garra. E Amor! Vi tanto amor!!! Vi famílias lutadoras, unidas, vividas, vencedoras. 

Vi uma equipa fantástica que veste a camisola e trabalha com o coração. 
Vi uma casa que oferece conforto nas horas mais duras. Que oferece intimidade. Que oferece refúgio. Que oferece colo. Vi tudo isto, mas a maior parte não vi com os olhos, senti com o coração.



Voltei para Cascais no meu carro. Nem fui capaz de ligar o rádio. Pensei na sorte que tive de me cruzar com estas pessoas fantásticas. E sobretudo na sorte que tenho por ter dois filhos saudáveis. 

Vou ali abraçá-los!


1 comentário:

rosa amado disse...

Obrigada kiki por partilhares esta realidade.
Fiquei com vontade de la ir e de alguma maneira contribuir para a causa, sabendo que quem ganhria mais no fundo seria sempre eu. Obrigada